quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Origem da Exclusão da Reencarnação

     
Concílio de Nicéia (Imagem: Wikipédia)
    Como está registrada na história, em vários períodos, a estrutura religiosa cristã formou-se com a aliança entre o poder imperial e o poder religioso, com o objetivo de domínio e imposição de poder, gerando com isso benefícios de interesses pessoais.
    Os Concílios, realizados pelos poderes imperiais e religiosos do passado, procuraram combater a diversidade de crenças e estabelecer uma única interpretação verdadeira da doutrina cristã.
     No panorama histórico da formação da fé cristã podemos perceber a dificuldade de interpretação dos registros antigos, devido à dúvida de suas autorias e distorções quanto às traduções. Por este motivo é que surgiram diversas seitas religiosas; com interpretações, dogmas e liturgias próprias.
   O ser humano tem uma forte tendência a se prender na forma exterior; em detrimento da essência. Isto porque, compreender o abstrato  é muito mais difícil quando não se usa o raciocínio livre de superstição e de crença imposta por representantes dos poderes temporais.
     Jesus iniciou a sua doutrina endereçada a mudança do pensamento e do sentimento humano. Trata-se de uma mudança do comportamento humano e a formação de uma ética que harmoniza a sociedade planetária. E, para a mudança deste comportamento, torna-se necessário o conhecimento das leis divinas com que Deus rege o universo. As revelações dessas leis sempre vieram de forma gradativa, e foram utilizados seres humanos dotados de capacidade para revelá-las (mediunidade). Eles recepcionaram essas revelações e as interpretaram conforme suas crenças culturais. A reencarnação é uma dessas revelações das Leis Divinas, e ela explica de forma lógica e racional o processo evolutivo das almas e a origem dos sofrimentos humanos.
      Se ela não é aceita em alguns segmentos cristãos é porque não está registrada nos seus livros canônicos. Os textos, abaixo, explicam porque foram retirados os registros que tratavam do tema reencarnação.
     Desde o estudo inicial do fenômeno mediúnico, a partir de 1857, com o Livro dos Espíritos, as revelações, de forma gradativa, vêm complementando as revelações do passado. As seitas religiosas que se prendem mais à forma do passado não conseguem aceitar que, as revelações atuais, vêm dar continuidade e profundidade de compreensão às revelações antigas.
V. Lau    


Porto Alegre (RS), agosto de 2006.
     (...) – A reencarnação sempre foi aceita entre as antigas religiões e os sacerdotes iniciados desde os tempos da antiga Suméria, e mais remotamente na extinta Atlântida. Entretanto, essa crença não era compartilhada pelos poderosos de todos os tempos, que achavam desconfortável a idéia de que poderiam vir a reencarnar, em uma vida futura, como mendigo ou escravo. Por esse e outros motivos, a reencarnação sempre ficou relegada ao universo restrito dos sábios e dos sacerdotes. A crença espiritual das múltiplas existências, além de ser um tema complexo, era naturalmente indigesta para aqueles que desejavam manter-se sempre no poder, mesmo que isso fizesse somente parte de uma fé religiosa.
     No âmbito do Cristianismo, depois do retorno de Jesus ao plano espiritual, por diversos anos os ensinamentos do grande rabi da Galiléia foram ensinados de acordo com o entendimento de diversas correntes.
     Uma delas era o grupo dos seguidores de Tiago, o irmão de Jesus, que entendia a mensagem de Jesus como a de um líder espiritual e humano para a libertação de Israel do jugo romano, idéia compartilhada por sua mãe. Tiago acreditava que a mensagem de Jesus era para os judeus, portanto todo aquele que desejasse ser um cristão deveria ser circuncidado e aceitar a religião judaica. Ele aceitava a mensagem filosófica de seu irmão, mas acreditava ser necessário utilizar-se de armas para libertar Israel. Para ele a mensagem era mais humana do que espiritual. Jesus era o messias “físico”, o libertador de Israel.
     Outro segmento importante era o conhecido como Gnosticismo (seita dos “gnósticos”), que se subdividia em diversas correntes internas. Nem todas possuíam uma mensagem coerente. Entretanto o seu segmento mais destacado era composto por verdadeiros filósofos que buscavam interpretar os ensinamentos do Mestre de acordo com a sua real profundidade. Eram em geral admiradores dos ensinamentos de Sócrates e Platão e procuravam conciliar esses ensinamentos com os do Cristo. Os “gnósticos” não acreditavam na divindade de Jesus, mas criam que ele era um grande instrutor da humanidade, e não o próprio Deus, como muitas das religiões cristãs hoje em dia crêem. Eles pregavam que todos deveriam aprender a mensagem de Jesus e evoluir com ela. Ou seja: a verdadeira busca da Luz, aquilo que procuramos hoje em dia para a construção de um novo modelo religioso. Para os gnósticos, Jesus era o professor, e não o Salvador. Não havia adoração religiosa, mas sim esclarecimento espiritual a partir da mensagem do Cristo.
     E, por fim, havia o principal segmento do Cristianismo nascente, que ficou conhecido como a corrente dos “paulinos”, ou seja, os seguidores de Paulo de Tarso (o apóstolo Paulo). Este segmento construiu a Igreja cristã tradicional como a conhecemos hoje. Os adeptos dessa corrente acreditavam que Jesus era o próprio Deus e que o sacrifício na cruz redimiria todos os pecados da humanidade. Em resumo: Jesus era o Salvador, e não o professor. A facção dos “paulinos” com o passar dos anos tornou-se fundamentalista e acusava todas as demais de serem hereges por ensinar conceitos que eles não aceitavam.
     Assim, com o passar dos anos, pouco a pouco, por causa de seu desconhecimento espiritual e interesses obscuros, os cristãos primitivos foram descartando os conceitos sobre a reencarnação do espírito e do carma, aceitos em todo o Oriente. Nas diversas traduções e recompilações dos textos, foi-se, paulatinamtne, trocando-se o sentido das palavras, adaptando-as ao entendimento daqueles que as traduziam, sempre com o objetivo de aproximá-las dos interesses daqueles que começavam a dar força à religião nascente. Os poderosos da época: a águia romana!
     Então, no século IV, durante o Concílio de Nicéia, em 325 d.C., o imperador Constantino oficializou o segmento dos “paulinos” como o “verdadeiro Cristianismo”. A partir daquele momento todos os demais segmentos foram perseguidos até serem extintos. Os “livros hereges” então foram destruídos sem piedade. Eis o primeiro capítulo de longos séculos de inquisição religiosa, que chegaria ao seu ápice na Idade Média.
     Assim, com o poder de polícia (apoio do império) obtido pelos paulinos (ortodoxos), em pouco tempo não existiam mais registros das correntes alternativas do Cristianismo, que terminaram caindo no esquecimento. Até que em 1945, em Nag Hammadi (Egito), foi encontrado um vaso de cerâmica que continha diversos evangelhos de outros discípulos de Jesus, que resgataram para a atualidade parte dos ensinamentos das demais correntes Cristãs. Esses Evangelhos hoje em dia são conhecidos como “apócrifos”, pois não são aceitos pela Igreja. Os da igreja tradicional são chamados de “canônicos”.
     Essa maravilhosa descoberta reacendeu o debate sobre o que é real dentro do Cristianismo como o conhecemos. Portanto, esse é mais um motivo para realizarmos debates sinceros pela busca da Verdade. O terceiro milênio não comporta mais frases feitas como: “a Bíblia é a própria palavra de Deus”. Como afirmamos isso se a Bíblia foi escrita por homens, e não por Deus? (...)
     “Universalismo Crístico”,  O futuro das religiões – Obra mediúnica orientada pelo espírito Hermes – Roger Bottini Paranhos . 1ª edição – 2007 Editora do Conhecimento.
João Pessoa (PB), 2009
     A Igreja Católica aceitava a reencarnação até o ano de 553 da nossa era

     O apóstolo Paulo falava várias vezes de um corpo espiritual, imponderável, incorruptível, (IEpist. Corintios, 15:44) e Orígenes, discípulo de São Clemente de Alexandria, em seus comentários sobre o Novo Testamento, afirma que esse corpo, dotado de uma virtude plástica, acompanha a alma em todas as suas existências e em todas as suas peregrinações, para penetrar e enfornar os corpos mais ou menos grosseiros e materiais que ela  reveste e que são necessários no exercício de suas diversas vidas.
     Orígenes e os pais alexandrinos, que sustentavam uns, a certeza, outros, a possibilidade de novas provas após a provação terrena, propunham a si mesmos a questão de saber qual o corpo que ressuscitaria no juízo final. Resolveram-na, atribuindo a ressurreição apenas ao corpo espiritual, como o fizeram Paulo e, mais tarde, o próprio Sto. Agostinho, figurando como incorruptíveis finos, tênues e soberanamente ágeis os corpos dos eleitos (Santo Agostinho – Manual – cap. XXVI)
     Orígenes afirmava ser a doutrina do Carma e do renascimento uma doutrina Cristã.
     Devido a esta crença, 299 (duzentos e noventa e nove) dias, após sua morte, contra ele a igreja decretou a excomunhão. O segundo Concílio de Constantinopla, no ano 553, decretou: “Todo aquele que defender a doutrina mística da preexistência da alma e a consequente assombrosa opinião de que ela retorna, seja anátema (sentença que excomunga)”.
     Até esta época, a doutrina do renascimento e do carma era aceita pela Igreja Cristã.

     A história do II Concílio de Constantinopla teve marcante acontecimento com a figura do imperador Justiniano, um teólogo, que queria saber mais teologia do que o papa. Justiniano tentou reinserir os monofisistas (Doutrina que reconhece uma só natureza em Jesus Cristo, a divina) no meio dos ortodoxos da igreja, pois temia que os monofisistas, comandados por Severo de Antioquia, se afastassem e voltassem-se para a Pérsia. Organizou no palácio a primeira conferência entre ortodoxos e monofisistas, para a qual convidou seis ortodoxos e seis monofisistas tentando definir as diferenças entre as doutrinas.
     O Papa, Vigílio, apesar de se encontrar em Constantinopla, recusou-se a participar do concílio convocado pelo imperador e tampouco se fez representar. O concílio pressionado pelo imperador excomungou o Papa. O Papa Vigílio acabou reconhecendo o concílio em troca da suspensão de sua excomunhão.
     A esposa de Justiniano chamada Teodora, teve muita influência nos assuntos do governo do marido e até no que se referiu à teologia. Foi ela quem acomodou os monges egípcios e os clérigos siríacos nos vários palácios da capital e, sobretudo, no palácio de Hormisdas, que se tornara o centro da propaganda monofisista.
    Por ter sido ela uma prostituta, suas ex-colegas se sentiam orgulhosas e decantavam tal honra. Mas esse fato a revoltava e se constituía numa desonra, fazendo com que mandasse matar todas as quinhentas prostitutas de Constantinopla.
     Os cristãos da época passaram a chamá-la de assassina e a dizer que deveria ser assassinada, quinhentas vezes, em vidas futuras. Este seria seu carma por ter mandado assassinar as suas quinhentas ex-colegas prostitutas.
     A partir daí, Teodora passou a odiar a doutrina da Reencarnação e como mandava e desmandava em meio mundo através do seu marido, resolveu partir para uma perseguição sem tréguas contra essa doutrina e contra o seu maior defensor que era Orígenes.
     O Concílio tratou de duas questões básicas: O Monofisismo e o Origenismo. O Origenismo defendia a apocatástase do universo (revolução periódica que reconduz os astros ao ponto de onde partiram) e a Reencarnação. O concílio condenou o Origenismo em termos claros e severos.
Tudo isso culminou com o que já citamos, acima, a condenação de Orígenes realizada pelo patriarca Menos e seus bispos em Constantinopla. (grifos e destaque, nossos)
Analisando as Traduções Bíblicas”- Professor Severino Celestino da Silva – Mundo Maior Editora


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A Lei da Reencarnação

Jerusalém Antiga
   Confrontando os relatos mediúnicos da atualidade com os relatos contidos na Bíblia podemos perceber duas coisas importantes, na forma que os evangelhos foram escritos. Primeiramente, durante os três anos do ministério de Jesus, nem sempre estavam junto com ele todos os doze discípulos. Segundo, cada discípulo que participou junto a Jesus fez suas anotações conforme sua perspectiva, daí as diferenças nos relatos dos evangelistas. No caso do episódio com Nicodemos há somente o registro bíblico efetuado por João; e, conforme relato de Humberto de Campos, quem estava acompanhando Jesus naquele momento era somente André e Tiago. Tudo indica que os dois discípulos após questionarem Jesus sobre aquele novo entendimento, acerca do ensinamento do “nascer de novo”, podem ter transmitido, através da tradição oral, a João que fez o registro posteriormente. Há também uma teoria feita pelos estudiosos bíblicos que alguns relatos que constam na bíblia não foram escritos pelos discípulos e sim pelos seus seguidores.
     Jesus disse a Nicodemos que para ver o Reino de Deus é preciso nascer de novo; e  como não há no registro bíblico uma explicação mais aprofundada sobre esta questão fica em aberto a  interpretação de forma livre.
     A interpretação mais sensata é admitir-se que “nascer de novo” refere-se, após a morte do corpo físico, a alma nascer em outro corpo físico; e, com a repetição deste processo, através da experiência poder evoluir e poder ver a luz do reino de Deus. Ao contrário, se formos interpretar que depois que o corpo envelhecer, o corpo tem que nascer de novo, vamos criar a mesma dúvida de Nicodemos. Uma terceira opção seria a de se entender que Jesus queria dizer que se o homem não se renovar, com uma postura nova perante a vida, não entraria no Reino de Deus.  Esta parece ser a opção melhor para aqueles que não querem admitir a possibilidade de um ser espiritual depois que morrer seu corpo físico nascer novamente em outro corpo físico.  No texto de Humberto de Campos Jesus explica de forma clara aos dois discípulos que a alma usa o corpo como uma roupagem, e após este não servir mais, devido ao seu desgaste, ela nasce em um novo corpo para adquirir outras experiências no seu caminhar. A alma, através deste processo de nascer e renascer em outros corpos físicos, aos poucos vai adquirindo uma luminosidade, decorrente das experiências positivas, que permitirá a ela sintonizar-se em dimensões com frequências mais elevadas, que é o "Reino de Deus".
     Em seguida, após compreender a explicação de Jesus, acima, o discípulo André questiona sobre o motivo de haver tanta diferença das roupagens das almas. Jesus explica que as almas que possuem corpos com deformações e em condições de sofrimentos estão em processo de resgate, por débitos contraídos em experiências encarnatórias anteriores. Justifica assim a necessidade da alma nascer e renascer novamente para depurar-se através de experiências diferentes.

V.Lau         



Fonte: Canal Mórmon

João 3
O Encontro com Nicodemos. 
 (1) Havia entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um notável entre os judeus.
(2) À noite ele veio encontrar Jesus e lhe disse: “Rabi, sabemos que vens da parte de Deus como mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com ele”.
(3) Jesus lhe respondeu:“Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus”.
(4) Disse-lhe Nicodemos: “Como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar segunda vez no seio de sua mãe e nascer?”
 (5) Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do espírito não pode entrar no Reino de Deus.
(6) O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito.
(7) Não te admires de eu te haver dito: Vós deveis nascer de novo.
(8) O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito”.
(9) Perguntou-lhe Nicodemos: “Como isso pode acontecer?”
(10) Respondeu-lhe Jesus: “És o mestre de Israel e ignoras essas coisas? (...)

BÍBLIA DE JERUSALÉM – Nova edição, revista e ampliada. Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. PAULUS – 2002 -  São Paulo.

Pedro Leopoldo (MG), novembro de 1940.

Espírito Humberto de Campos

      A Lição a Nicodemos    
     Em face dos novos ensinamentos de Jesus, todos os fariseus do templo se tomavam de inexcedíveis cuidados, pelo seu extremado apego aos textos antigos. O Mestre, porém, nunca perdeu ensejo de esclarecer as situações mais difíceis com a luz da Verdade que a sua palavra divina trazia ao pensamento do mundo. Grande número de doutores não conseguia ocultar o seu  descontentamento, porque, não obstante suas atividades derrotistas, continuavam as ações generosas de Jesus, beneficiando os aflitos e os sofredores. Discutiam-se os novos princípios, no grande templo de Jerusalém, nas suas praças públicas e nas sinagogas. Os mais humildes e pobres viam no Messias o Emissário de Deus, cujas mãos repartiam em abundância os bens da paz e da consolação. As personalidades importantes temiam-no.
     É que o Profeta não se deixava seduzir pelas grandes promessas que lhe faziam com referência ao seu futuro material. Jamais temperava a sua palavra de Verdade com as conveniências do comodismo da época. Apesar de magnânimo para com todas as faltas alheias, combatia o mal com tão intenso ardor, que para logo se fazia objeto de hostilidade para todas as intenções inconfessáveis. Mormente em Jerusalém que, com o seu cosmopolitismo, era um expressivo retrato do mundo, as ideias do Senhor acendiam as mais apaixonadas discussões. Eram populares que se entregavam à apologia franca da doutrina de Jesus, servos que o sentiam com todo o calor do coração reconhecido, sacerdotes que o combatiam abertamente, convencionalistas que não o toleravam, Indivíduos abastados que se insurgiam contra os seus ensinos.
     Todavia, sem embargo das dissensões naturais que precedem o estabelecimento definitivo das ideias novas, alguns Espíritos acompanhavam o Messias, tomados de vivo interesse pelos seus elevados princípios. Entre estes, figurava Nicodemos, fariseu notável pelo coração bem formado e pelos dotes da inteligência. Assim, uma noite, ao cabo de grandes preocupações e longos raciocínios, procurou a Jesus, em particular, seduzido pela magnanimidade de suas ações e pela grandeza de sua doutrina salvadora. O Messias estava acompanhado apenas de dois dos seus discípulos e recebeu a visita com a sua bondade costumeira.
     Após a saudação habitual e revelando as suas ânsias de conhecimento, depois de fundas meditações, Nicodemos dirigiu-se-lhe respeitoso:
     - Mestre, bem sabemos que vindes de Deus, pois somente com a luz da assistência divina poderíeis realizar o que tendes efetuado, mostrando o sinal do Céu em vossas mãos. Tenho empregado a minha existência em interpretar a lei, mas desejava receber a vossa palavra sobre os recursos de que deverei lançar mão para conhecer o Reino de Deus!
     O Mestre sorriu bondosamente e esclareceu:
     - Primeiro que tudo, Nicodemos, não basta que tenhas vivido a interpretar a lei. Antes de raciocinar sobre as suas disposições, deverias ter-lhe sentido os textos. Mas, em verdade, devo dizer-te que ninguém conhecerá o Reino do céu, sem nascer de novo.
     - Como pode um homem nascer de novo, sendo velho? – interrogou o fariseu, altamente surpreendido. – Poderá, porventura, regressar ao ventre de sua mãe?
     O Messias fixou nele os olhos calmos, consciente da gravidade do assunto em foco, e acrescentou:
     - Em verdade, reafirmo-te ser indispensável que o homem nasça e renasça, para conhecer plenamente a luz do Reino!...
     - Entretanto, como pode isso ser? – perguntou Nicodemos, perturbado.
     - És mestre em Israel e ignoras estas coisas? – inquiriu Jesus, como que surpreendido. – É natural que cada um somente testifique aquilo de que saiba; porém, precisamos considerar que tu ensinas. Apesar disso, não aceitas os nossos testemunhos. Se falando eu de coisas terrenas sentes dificuldades em compreendê-las com os teus raciocínios sobre a lei, como poderás aceitar as  minhas afirmativas quando eu disser das coisas celestiais? Seria loucura destinar os alimentos apropriados a um velho para o organismo frágil de uma criança.
     Extremamente confundido, retirou-se o fariseu, ficando André e Tiago empenhados em obter do Messias o necessário esclarecimento, acerca daquela lição nova.

     Jerusalém quase dormia sob o véu espesso da noite alta. Silêncio profundo se fizera sobre a cidade. Jesus, no entanto, e aqueles dois discípulos continuavam presos à conversação particular que haviam entabulado. Desejavam eles ardentemente penetrar o sentido oculto das palavras do Mestre. Como seria possível aquele renascimento? Não obstante os seus conhecimentos, também partilhavam da perplexidade que levara Nicodemos a se retirar fundamente surpreendido.
     - Por que tamanha admiração, em face destas verdades? – perguntou-lhes Jesus, bondosamente. – As árvores não renascem depois de podadas? Com respeito aos homens, o processo é diferente, mas o espírito de renovação é sempre o mesmo. O corpo é uma veste. O homem é seu dono. Toda roupagem material acaba rota, porém, o homem, que é filho de Deus, encontra sempre em seu amor os elementos necessários à mudança do vestuário. A morte do corpo é essa mudança indispensável, porque a alma caminhará sempre, por meio de outras experiências, até que consiga a imprescindível provisão de luz para a estrada definitiva no Reino de Deus, com toda a perfeição conquistada ao longo dos rudes caminhos.
     André sentiu que uma nova compreensão lhe felicitava o espírito simples e perguntou:
     - Mestre, já que o corpo é como que a roupa material das almas, por que não somos todos iguais no mundo? Vejo belos jovens, junto de aleijados e paralíticos...
     - Acaso não tenho ensinado- disse Jesus- que tem de chorar todo aquele que se transforma em instrumento de escândalo? Cada alma conduz consigo mesma o inferno ou o Céu que edificou no âmago da consciência. Seria justo conceder-se uma segunda veste mais perfeita e mais bela ao Espírito rebelde que estragou a primeira? Que diríamos da sabedoria de nosso Pai, se facultasse as possibilidades mais preciosas aos que as utilizaram na véspera para o roubo, o assassínio, a destruição? Os que abusaram da túnica da riqueza vestirão depois as dos fâmulos e escravos mais humildes, como as mãos que feriram podem vir a ser cortadas.
     Senhor, compreendo agora o mecanismo do resgate – murmurou Tiago, externando a alegria do seu entendimento. – Mas observo que, desse modo, o mundo precisará sempre do clima do escândalo e do sofrimento, desde que o devedor, para saldar seu débito, não poderá fazê-lo sem que outro lhe tome o lugar com a mesma dívida.
     O Mestre apreendeu a amplitude da objeção e esclareceu aos discípulos, perguntando:
     - Dentro da lei de Moisés, como se verifica o processo da redenção?
     Tiago meditou um instante e respondeu:
     - Também na lei está escrito que o homem pagará “olho por olho, dente por dente”.
     - Também tu, Tiago, estás procedendo como Nicodemos – replicou Jesus com generoso sorriso. – Como todos os homens, aliás, tens raciocinado, mas não tens sentido. Ainda não ponderaste, talvez, que o primeiro mandamento da Lei é uma determinação de amor. Acima do “não adulterarás”, do “não cobiçarás”, está o “amar a Deus sobre todas as coisas, de todo o coração e de todo o entendimento”. Como poderá alguém amar o Pai, aborrecendo-lhe a obra? Contudo, não estranho a exiguidade de visão espiritual com que examinaste o texto dos profetas. Todas as criaturas hão feito o mesmo. Investigando as revelações do Céu com o egoísmo que lhes é próprio, organizaram a justiça como o edifício mais alto do idealismo humano. E, entretanto, coloco o amor acima da justiça do mundo e tenho ensinado que  só ele  cobre a multidão dos pecados. Se nos prendermos à lei de talião, somos obrigados a reconhecer que onde existe um assassino haverá, mais tarde, um homem que necessita ser assassinado; com a lei do amor, porém, compreendemos que o verdugo e a vítima são dois irmãos, filhos de um mesmo Pai. Basta que ambos sintam isso para que a fraternidade divina afaste os fantasmas do escândalo e do sofrimento.

     Ante as elucidações do Mestre, os dois discípulos estavam maravilhados. Aquela lição profunda esclarecia-os para sempre.
     Tiago, então, aproximou-se e sugeriu a Jesus que proclamasse aquelas verdades novas na pregação do dia seguinte. O Mestre dirigiu-lhe um olhar de admiração e interrogou:
      - Será que não compreendeste? Pois, se um doutor da lei saiu daqui sem que eu lhe pudesse explicar toda a Verdade, como queres que proceda de modo contrário, para com a compreensão simplista do espírito popular? Alguém constrói uma casa iniciando pelo teto o trabalho? Além disso, mandarei mais tarde o Consolador, a fim de esclarecer e dilatar os meus ensinos.
      Eminentemente impressionados, André e Tiago calaram as derradeiras interrogações. Aquela palestra particular, entre o Senhor e os discípulos, permaneceria guardada na sombra leve da noite em Jerusalém, mas a lição a Nicodemos estava dada. A Lei da Reencarnação estava proclamada para sempre, no Evangelho do Reino.

BOA NOVA – pelo Espírito Humberto de Campos – psicografado por Francisco Cândido Xavier – 36. Ed. Brasília: FEB, 2013