Jerusalém Antiga |
Confrontando os relatos
mediúnicos da atualidade com os relatos contidos na Bíblia podemos perceber
duas coisas importantes, na forma que os evangelhos foram escritos.
Primeiramente, durante os três anos do ministério de Jesus, nem sempre estavam
junto com ele todos os doze discípulos. Segundo, cada discípulo que participou junto
a Jesus fez suas anotações conforme sua perspectiva, daí as diferenças nos
relatos dos evangelistas. No caso do episódio com Nicodemos há somente o
registro bíblico efetuado por João; e, conforme relato de Humberto de Campos,
quem estava acompanhando Jesus naquele momento era somente André e Tiago. Tudo
indica que os dois discípulos após questionarem Jesus sobre aquele novo
entendimento, acerca do ensinamento do “nascer de novo”, podem ter transmitido, através da tradição oral, a João que fez o registro posteriormente. Há também uma teoria feita pelos
estudiosos bíblicos que alguns relatos que constam na bíblia não foram escritos
pelos discípulos e sim pelos seus seguidores.
Jesus disse a Nicodemos que para ver o
Reino de Deus é preciso nascer de novo; e como não há no registro bíblico uma explicação
mais aprofundada sobre esta questão fica em aberto a interpretação de forma livre.
A interpretação mais sensata é admitir-se
que “nascer de novo” refere-se, após a morte do corpo físico, a alma nascer em
outro corpo físico; e, com a repetição deste processo, através da experiência
poder evoluir e poder ver a luz do reino de Deus. Ao contrário, se formos
interpretar que depois que o corpo envelhecer, o corpo tem que nascer de novo,
vamos criar a mesma dúvida de Nicodemos. Uma terceira opção seria a de se
entender que Jesus queria dizer que se o homem não se renovar, com uma postura
nova perante a vida, não entraria no Reino de Deus. Esta parece ser a opção melhor para aqueles
que não querem admitir a possibilidade de um ser espiritual depois que morrer
seu corpo físico nascer novamente em outro corpo físico. No texto de Humberto de Campos Jesus explica
de forma clara aos dois discípulos que a alma usa o corpo como uma roupagem, e
após este não servir mais, devido ao seu desgaste, ela nasce em um novo corpo
para adquirir outras experiências no seu caminhar. A alma, através deste
processo de nascer e renascer em outros corpos físicos, aos poucos vai
adquirindo uma luminosidade, decorrente das experiências positivas, que
permitirá a ela sintonizar-se em dimensões com frequências mais elevadas, que é
o "Reino de Deus".
Em seguida, após compreender a explicação
de Jesus, acima, o discípulo André questiona sobre o motivo de haver tanta
diferença das roupagens das almas. Jesus explica que as almas que possuem corpos
com deformações e em condições de sofrimentos estão em processo de resgate, por
débitos contraídos em experiências encarnatórias anteriores. Justifica assim a
necessidade da alma nascer e renascer novamente para depurar-se através de experiências
diferentes.
V.Lau
João 3
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O Encontro
com Nicodemos.
(1) Havia
entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um notável entre os judeus.
(2) À noite ele veio encontrar Jesus e lhe disse:
“Rabi, sabemos que vens da parte de Deus
como mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver
com ele”.
(3) Jesus lhe respondeu:“Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer de novo não pode
ver o Reino de Deus”.
(4) Disse-lhe Nicodemos: “Como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar segunda vez
no seio de sua mãe e nascer?”
(5)
Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade, em
verdade, te digo: quem não nascer da água e do espírito não pode entrar no
Reino de Deus.
(6) O que
nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito.
(7) Não te
admires de eu te haver dito: Vós deveis nascer de novo.
(8) O
vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para
onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito”.
(9) Perguntou-lhe Nicodemos: “Como isso pode acontecer?”
(10) Respondeu-lhe Jesus: “És o mestre de Israel e ignoras essas coisas? (...)
BÍBLIA DE JERUSALÉM – Nova edição, revista e ampliada.
Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. PAULUS –
2002 - São Paulo.
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Pedro Leopoldo (MG), novembro de 1940.
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A Lição a Nicodemos
Em face dos novos ensinamentos de Jesus, todos os fariseus do templo se tomavam de inexcedíveis cuidados,
pelo seu extremado apego aos textos antigos. O Mestre, porém, nunca
perdeu ensejo de esclarecer as situações mais difíceis com a luz da Verdade
que a sua palavra divina trazia ao pensamento do mundo. Grande número de doutores não conseguia ocultar o seu descontentamento, porque, não
obstante suas atividades derrotistas, continuavam as ações generosas de
Jesus, beneficiando os aflitos e os sofredores. Discutiam-se os novos princípios, no grande templo de Jerusalém,
nas suas praças públicas e nas sinagogas. Os mais humildes e pobres
viam no Messias o Emissário de Deus, cujas mãos repartiam em abundância os bens
da paz e da consolação. As personalidades importantes temiam-no.
É que o Profeta não se deixava seduzir
pelas grandes promessas que lhe faziam com referência ao seu futuro material.
Jamais temperava a sua palavra de Verdade com as conveniências do comodismo
da época. Apesar de magnânimo para com todas as faltas alheias, combatia o
mal com tão intenso ardor, que para logo se fazia objeto de hostilidade para
todas as intenções inconfessáveis. Mormente em Jerusalém que, com o seu cosmopolitismo, era um
expressivo retrato do mundo, as
ideias do Senhor acendiam as mais apaixonadas discussões. Eram
populares que se entregavam à apologia franca da doutrina de Jesus, servos
que o sentiam com todo o calor do coração reconhecido, sacerdotes que o combatiam abertamente, convencionalistas
que não o toleravam, Indivíduos abastados que se insurgiam contra os seus
ensinos.
Todavia,
sem embargo das dissensões naturais que precedem o estabelecimento definitivo
das ideias novas, alguns Espíritos
acompanhavam o Messias, tomados de vivo interesse pelos seus elevados
princípios. Entre estes, figurava Nicodemos, fariseu notável pelo coração bem formado e pelos dotes
da inteligência. Assim, uma noite, ao cabo de grandes preocupações e
longos raciocínios, procurou a Jesus, em particular, seduzido pela magnanimidade de suas ações e pela grandeza de sua
doutrina salvadora. O Messias
estava acompanhado apenas
de dois dos seus discípulos e recebeu a visita com a sua
bondade costumeira.
Após a
saudação habitual e revelando as suas ânsias de conhecimento, depois de
fundas meditações, Nicodemos dirigiu-se-lhe respeitoso:
- Mestre, bem sabemos que vindes de Deus,
pois somente com a luz da assistência divina poderíeis realizar o que
tendes efetuado, mostrando o sinal do Céu em vossas mãos. Tenho empregado
a minha existência em interpretar a lei, mas desejava receber a vossa palavra
sobre os recursos de
que deverei lançar mão para conhecer o Reino de Deus!
O Mestre
sorriu bondosamente e esclareceu:
- Primeiro que tudo, Nicodemos, não
basta que tenhas vivido a interpretar a lei. Antes de raciocinar sobre as
suas disposições, deverias ter-lhe sentido os textos. Mas, em verdade,
devo dizer-te que
ninguém conhecerá o Reino do céu, sem nascer de novo.
- Como pode um homem nascer de novo,
sendo velho? – interrogou o fariseu, altamente surpreendido. – Poderá, porventura, regressar ao
ventre de sua mãe?
O Messias
fixou nele os olhos calmos, consciente da gravidade do assunto em foco, e
acrescentou:
- Em verdade, reafirmo-te ser
indispensável que o homem nasça e renasça, para conhecer plenamente a luz do Reino!...
- Entretanto, como pode isso ser? –
perguntou Nicodemos, perturbado.
- És mestre em Israel e ignoras estas
coisas? – inquiriu Jesus, como que surpreendido. – É natural que cada um somente testifique aquilo de que saiba;
porém, precisamos considerar que tu ensinas. Apesar disso, não aceitas os
nossos testemunhos. Se falando eu de coisas terrenas sentes dificuldades em
compreendê-las com os teus raciocínios sobre a lei, como poderás aceitar
as minhas afirmativas quando eu disser
das coisas celestiais? Seria loucura destinar os alimentos apropriados a um velho
para o organismo frágil de uma criança.
Extremamente confundido, retirou-se o fariseu, ficando André e Tiago empenhados em obter do
Messias o necessário esclarecimento, acerca daquela lição nova.
Jerusalém quase
dormia sob o véu espesso da noite alta. Silêncio profundo se fizera sobre a
cidade. Jesus, no entanto, e aqueles dois discípulos continuavam presos à
conversação particular que haviam entabulado. Desejavam eles ardentemente
penetrar o sentido oculto das palavras do Mestre. Como seria possível aquele renascimento? Não obstante os
seus conhecimentos, também partilhavam da perplexidade que levara Nicodemos a
se retirar fundamente surpreendido.
- Por que tamanha admiração, em face
destas verdades? – perguntou-lhes Jesus, bondosamente. – As árvores não renascem depois de
podadas? Com respeito aos homens, o processo é diferente, mas o espírito de renovação é
sempre o mesmo.
O corpo é uma veste. O homem é seu dono. Toda roupagem
material acaba rota, porém, o homem, que é filho de Deus, encontra sempre em seu amor os
elementos necessários à mudança do vestuário. A morte do corpo
é essa mudança indispensável, porque a alma caminhará sempre, por meio de outras
experiências, até
que consiga a imprescindível provisão de luz para a estrada definitiva no
Reino de Deus, com toda a perfeição conquistada ao longo dos rudes
caminhos.
André
sentiu que uma nova compreensão lhe felicitava o espírito simples e perguntou:
- Mestre, já que o corpo é como que a
roupa material das almas, por que não somos todos iguais no mundo?
Vejo belos jovens, junto de aleijados e paralíticos...
- Acaso não tenho ensinado- disse
Jesus- que tem de chorar todo
aquele que se transforma em instrumento de escândalo? Cada alma conduz consigo mesma o inferno ou o Céu que
edificou no âmago da consciência. Seria justo conceder-se uma segunda veste mais perfeita e mais bela
ao Espírito rebelde que estragou a primeira? Que diríamos da sabedoria de
nosso Pai, se facultasse as possibilidades mais preciosas aos que as utilizaram
na véspera para o roubo, o assassínio, a destruição? Os que abusaram da túnica da riqueza vestirão
depois as dos fâmulos e escravos mais humildes, como as mãos que feriram
podem vir a ser cortadas.
Senhor, compreendo agora o mecanismo do resgate
– murmurou Tiago, externando a alegria do seu entendimento. – Mas observo que, desse modo, o mundo
precisará sempre do clima do escândalo e do sofrimento, desde que o devedor,
para saldar seu débito, não poderá fazê-lo sem que outro lhe tome o lugar com
a mesma dívida.
O Mestre apreendeu a amplitude da objeção
e esclareceu aos discípulos, perguntando:
-
Dentro da lei de Moisés, como se verifica o processo da redenção?
Tiago meditou um instante e respondeu:
-
Também na lei está escrito que o homem pagará “olho por olho, dente por
dente”.
-
Também tu, Tiago, estás procedendo como Nicodemos – replicou Jesus com
generoso sorriso. – Como todos os
homens, aliás, tens raciocinado, mas não tens sentido. Ainda não ponderaste, talvez, que o primeiro mandamento da Lei é
uma determinação de amor. Acima do “não adulterarás”, do “não
cobiçarás”, está o “amar
a Deus sobre todas as coisas, de todo o coração e de todo o entendimento”.
Como poderá alguém
amar o Pai, aborrecendo-lhe a obra? Contudo, não estranho a exiguidade de visão espiritual
com que examinaste o texto dos profetas. Todas as criaturas hão feito o
mesmo. Investigando as revelações do Céu com o egoísmo que lhes é
próprio, organizaram a justiça como o edifício mais alto do idealismo humano.
E, entretanto, coloco
o amor acima da justiça do mundo e tenho ensinado que só ele cobre a multidão dos pecados. Se
nos prendermos à lei de talião, somos obrigados a reconhecer que onde existe
um assassino haverá, mais tarde, um homem que necessita ser assassinado; com a lei do amor, porém,
compreendemos que o verdugo e a vítima são dois irmãos, filhos de um mesmo
Pai. Basta
que ambos sintam isso para que a fraternidade divina afaste os fantasmas do
escândalo e do sofrimento.
Ante as elucidações do Mestre, os dois
discípulos estavam maravilhados. Aquela lição profunda esclarecia-os para
sempre.
Tiago, então, aproximou-se e sugeriu a
Jesus que proclamasse aquelas verdades novas na pregação do dia seguinte. O
Mestre dirigiu-lhe um olhar de admiração e interrogou:
-
Será que não compreendeste? Pois, se um doutor da lei saiu daqui sem que eu
lhe pudesse explicar toda a Verdade, como queres que proceda de modo
contrário, para com a compreensão simplista do espírito popular? Alguém
constrói uma casa iniciando pelo teto o trabalho? Além disso, mandarei mais tarde o Consolador, a
fim de esclarecer e dilatar os meus ensinos.
Eminentemente impressionados, André e Tiago calaram as derradeiras
interrogações. Aquela palestra particular, entre o Senhor e os discípulos,
permaneceria guardada na sombra leve da noite em Jerusalém, mas a lição a
Nicodemos estava dada. A Lei da Reencarnação estava
proclamada para sempre, no Evangelho do Reino.
BOA NOVA – pelo Espírito Humberto de Campos – psicografado por Francisco
Cândido Xavier – 36. Ed. Brasília: FEB, 2013
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