sábado, 24 de março de 2018

Quem é Jesus, Por que Ele Nasceu na Terra e Por que Ele Retornará?- Parte 3

Continuando..
 
 QUEM É JESUS?...

     
Francisco Cândido Xavier
     Prosseguindo a nossa reflexão anterior..., com a “Ciência do Espírito” em progresso, e a egrégora do “Espírito Verdade”, o “Consolador”, em trabalho de esclarecimento espiritual, vamos encontrar no livro psicografado em julho de 1941, na cidade de Pedro Leopoldo, Minas Gerais, por Francisco Cândido Xavier, cujo título é “Paulo e Estevão”, muitas informações importantes do período em que os discípulos de Jesus deram continuidade à sua obra.
     Nesse livro, o Espírito Emmanuel descreve a trajetória de aproximação de Estevão junto aos discípulos que conviveram diretamente com Jesus; também narra as dificuldades que os missionários encontraram frente a tradição religiosa dos judeus instalada em Israel; e traz detalhes importantes de todo o contexto cultural e religioso em que estava vivendo Saulo, e  como se deu a sua transformação de perseguidor dos seguidores de Jesus para o  grande divulgador do Evangelho.
      Para a nossa reflexão vamos sintetizar os acontecimentos narrados por Emmanuel:

ENCONTRO DE ESTEVÃO COM O EVANGELHO DE JESUS

Corinto
    No ano 34 d.C. em Corinto, o judeu Jochedeb, pai de Abgail, com 18 anos, e Jesiel (Estevão), com 25 anos, sofreu o confisco de seus bens pelo chefe romano Licínio Minúcio, que tinha adotado uma política arbitrária de expropriações dos bens das famílias judaicas. Por esse motivo, Jochedeb, num ato de desespero, tomado de ira, ateou fogo numa das propriedades de Licínio. Este mandou prendê-lo juntamente com seus dois filhos. Jochedeb faleceu, em frente aos filhos, devido aos castigos corporais; Jesiel (Estevão) foi enviado para o cativeiro nas galeras e sua irmã Abgail foi jogada nas ruas de Corintos. Ela após vagar sem rumo achou ajuda junto a um antigo amigo da família, o judeu Zacarias, que a acolheu como filha e a levou consigo para a Palestina.

Viagem de Estevão de Corinto à Jope
      Jesiel (Estevão), como cativo dentro do navio mercante, chegou ao porto de Jope na Palestina; ele estava muito doente e foi libertado por seu amo que tinha simpatizado com a personalidade do rapaz. No porto foi ajudado e levado para Jerusalém onde foi recebido como mais um enfermo que chegava à casa dos homens do “Caminho”, que era uma instituição de assistência aos necessitados, dirigida por Simão Pedro, Apóstolo de Jesus.
     Depois de se recuperar, Jesiel despertou a atenção de Pedro por ter demonstrado possuir um grande conhecimento das escrituras antigas; principalmente sobre “Isaías” que tinha anunciado a vinda do Messias. Pedro informou a Jesiel que o Messias já tinha vindo; e por despertar o interesse no rapaz, que quis saber onde estava o Messias, Pedro informou sobre a crucificação de Jesus ocorrida há mais de um ano atrás, ali mesmo em Jerusalém. Após narrar sobre a vida de Jesus e tudo o que ele tinha vivenciado como apostolo entregou a Jesiel as anotações que Levi (Mateus) tinha feito sobre o Messias.
      Assim descreve Emmanuel sobre esse momento: (...) Vou buscar-te os textos novos. São as anotações de Levi sobre o Messias redivivo.
      E, em breves minutos, o Apóstolo lhe punha nas mãos os pergaminhos do Evangelho, Jesiel não leu; devorou. Assinalou, em voz alta, uma a uma, todas as passagens da narrativa, seguido pela atenção de Pedro intimamente satisfeito.
     Terminada a rápida análise, o jovem advertiu:
     - Encontrei o tesouro da vida, preciso examiná-lo com mais vagar, quero saturar-me da sua luz, pois aqui pressinto a chave dos enigmas humanos.
     Quase em lágrimas, leu o Sermão da Montanha, secundado pelas comovedoras lembranças de Pedro. Em seguida, ambos passaram a comparar os ensinamentos do Cristo com as profecias que o anunciavam. O jovem hebreu estava comovidíssimo e queria conhecer os mínimos episódios da vida do Mestre. Simão procurava satisfazê-lo, edificado e satisfeito.  O generoso amigo de Jesus, tão incompreendido em Jerusalém, experimentava uma alegria orgulhosa por haver encontrado um jovem que se entusiasmava com os exemplos e ensinamentos do Mestre incomparável.” (...)
       Pedro adotou Jesiel como seu filho; e para que ele não fosse reconhecido como ex-escravo, o batizou com o nome de Estevão.
      
       (Uma informação importante acima descrito é que o primeiro a escrever o Evangelho foi Levi, que era o cobrador de impostos, foi chamado por Jesus para segui-lo como seu discípulo. Levi foi batizado depois com o nome de Mateus. A partir de suas anotações é que foram feitas cópias e distribuídas. Jesiel, batizado Estevão, torna-se um grande expoente do Evangelho de Jesus)


ENCONTRO DE SAULO DE TARSO COM ESTEVÃO

     
Templo de Jerusalém
Em Jerusalém, no ano de 35 d.C., Saulo de Tarso, jovem de 30 anos, doutor da lei e membro ativo do sinédrio defendia o sistema vigente dos ensinamentos e leis do judaísmo. Quando soube da fama das curas e pregações de uma nova doutrina feita por Estevão quis investigar de perto a veracidade e foi participar de uma das pregações de Estevão. Na casa dos homens do “Caminho”, onde havia a assistência a um grande número de necessitados, apesar de se sentir comovido com a beleza das palavras de Estevão, resolveu questionar sobre o que estava sendo dito em oposição a Lei de Moisés estabelecida. Após um embate oratório com o novo jovem pregador se sentiu humilhado diante do conhecimento que aquele trazia. Depois desse episódio, sentiu que aquela nova doutrina representava uma ameaça às leis e costumes estabelecidos. Após algumas tramas fez com que Estevão comparecesse diante do sinédrio para se defender de várias acusações. Ele acabou ficando preso e começou uma perseguição às pessoas que faziam parte da casa dos homens do “Caminho”. Pedro, João e Filipe foram presos; apenas Tiago que conseguiu se esquivar da prisão. Por interferência de Gamaliel, mestre de Saulo, Pedro e Filipe foram postos em liberdade e João foi banido da cidade. Já para Estevão a pena foi o apedrejamento por considerá-lo a ameaça mais perigosa entre eles.



     A partir daí, na narrativa do espírito Emmanuel, iniciou-se um enorme drama na vida de Saulo quando este descobriu que sua noiva Abgail, aquela do início da história, que foi abandonada em Corinto, e que depois foi adotada por Zacarias vindo morar em Jerusalém, durante a ação de apedrejamento de Estevão revelou ser a irmã do jovem executado.  Devido ao grande impacto desse drama vivido por eles, Saulo sentiu que não podiam continuar juntos, e ali mesmo tomou a decisão de se separarem. Mesmo assim, após a morte de Estevão, Saulo continuou a perseguição aos seguidores da nova doutrina de Jesus.
     Após oito meses da morte de Estevão e das perseguições Saulo resolveu visitar Abgail que tinha se retirado aos arredores de Jerusalém, em Jope. Encontrou-a muito doente e mesmo naquele sofrimento descobriu que ela estava também se reconfortando com o evangelho de Jesus.  

VIAGEM DE SAULO A DAMASCO
 
Viagem de Jerusalém a Damasco
     Saulo continuou com suas obrigações no Templo de Jerusalém; e, ainda com a ideia fixa de defender a “Lei de Moisés”, apesar dos apelos de Zacarias, pai adotivo de Abgail, resolveu perseguir também Ananias, por ele ter sido o inspirador de Abgail a se converter ao evangelho de Jesus. Sabendo que este se encontrava em Damasco pregando a Boa Nova, que na visão dele perturbava a vida nas sinagogas, resolveu pessoalmente ir atrás dos seguidores de Jesus para estabelecer a ordem. Juntamente com três servidores, montados em camelos, se puseram a caminho de Damasco.
      Durante a viagem começou a rever toda a sua infância; os acontecimentos envolvendo Estevão e a irmã deste; sua noiva Abigail; os homens do “Caminho” e as perseguições; e toda essa rememoração era como se uma força estranha o fizesse recordar de tudo sofrendo com isso um imenso pesadelo.



APARIÇÃO DE JESUS A SAULO



    
 Emmanuel descreveu como foi o momento de grande impacto na vida de Saulo, quando ele teve a visão de Jesus.
     (...) “Em dado instante, todavia, quando mal despertara das angustiosas cogitações, sente-se envolvido por luzes diferentes da tonalidade solar. Tem a impressão de que o ar se fende como uma cortina, sob pressão invisível e poderosa. Intimamente, considera-se presa de inesperada vertigem após o esforço mental persistente e doloroso. Quer voltar-se, pedir o socorro dos companheiros, mas não os vê, apesar da possibilidade de suplicar o auxílio.
      - Jacó!... Demétrio!... Socorram-me!... – grita desesperadamente.
     Mas a confusão dos sentidos lhe tira a noção de equilíbrio e tomba do animal, ao desamparo, sobre a areia ardente. A visão, no entanto, parece dilatar-se ao infinito. Outra luz lhe banha os olhos deslumbrados, e no caminho, que a atmosfera rasgada lhe desvenda, vê surgir a figura de um homem de majestática beleza, dando-lhe a impressão de que descia do céu ao seu encontro. Sua túnica era feita de pontos luminosos, os cabelos tocavam nos ombros, à nazarena, os olhos magnéticos, imanados de simpatia e de amor, iluminando a fisionomia grave e terna, onde pairava uma divina tristeza.
     O doutor de Tarso contemplava-o com espanto profundo, e foi quando, em uma inflexão de voz inesquecível, o desconhecido se fez ouvir:
     - Saulo!... Saulo!... por que me persegues?
     O moço tarsense não sabia que estava instintivamente de joelhos. Sem poder definir o que se passava, comprimiu o coração em uma atitude desesperada. Incoercível sentimento de veneração apossou-se inteiramente dele. Que significava aquilo? De quem o vulto divino que entrevia no painel do firmamento aberto e cuja presença lhe inundava o coração precipite de emoções desconhecidas?
     Enquanto os companheiros cercavam o jovem genuflexo, sem nada ouvirem nem verem, não obstante haverem percebido, a princípio, uma grande luz no alto, Saulo interrogava em voz trêmula e receosa:
     - Quem sois vós, Senhor?
     Aureolado de uma luz balsâmica e num tom de inconcebível doçura, o Senhor respondeu:
     - Eu sou Jesus!...

     
     Então, viu-se o orgulhoso e inflexível doutor da Lei curvar-se para o solo, em pranto convulsivo. Dir-se-ia que o apaixonado rabino de Jerusalém fora ferido de morte, experimentando num momento a derrocada de todos os princípios que lhe conformaram o espírito e o nortearam, até então, na vida. Diante dos olhos tinha, agora, e assim, aquele Cristo magnânimo e incompreendido! Os pregadores do “Caminho” não estavam iludidos” A palavra de Estevão era a verdade pura! A crença de Abgail era a senda real. Aquele era o Messias! A história maravilhosa da sua ressurreição não era um recurso lendário para fortificar as energias do povo. Sim, ele, Saulo, via-o ali no esplendor de suas glórias divinas! E que amor deveria animar-lhe o coração cheio de augusta misericórdia, para vir encontrá-lo nas estradas desertas, a ele, Saulo, que se arvorara em perseguidor implacável dos discípulos mais fiéis!... Na expressão de sinceridade da sua alma ardente, considerou tudo isso na fugacidade de um minuto. Experimentou invencível vergonha do seu passado cruel. Uma torrente de lágrimas impetuosas lavava-lhe o coração. Quis falar, penitenciar-se, clamar suas infindas desilusões, protestar fidelidade e dedicação ao Messias de Nazaré, mas a contrição sincera do espírito arrependido e dilacerado embargava-lhe a voz.
     Foi quando notou que Jesus se aproximava e, contemplando-o carinhosamente, o Mestre tocou-lhe os ombros com ternura, dizendo com inflexão paternal:
      - Não recalcitres contra os aguilhões!...
     Saulo compreendeu. Desde o primeiro encontro com Estevão, forças profundas o compeliam a cada momento, e em qualquer parte, à meditação dos novos ensinamentos. O Cristo chamara-o por todos os meios e de todos os modos.” (...)

Damasco 
     Saulo perguntou a Jesus o que ele queria que ele fizesse.  Jesus pediu que ele fosse para a cidade de Damasco, e lá seria dito a ele o que fazer.

     Em seguida ele percebeu que estava cego; mesmo assim se dirigiu para a cidade conforme recomendado.
     Após três dias de reflexões e orações intensas ele foi visitado por Ananias, o qual tinha recebido instruções de Jesus para estar ali e devolver-lhe a visão. Após batizá-lo na nova fé em Cristo Jesus, Ananias colocou a mão sobre os olhos de Saulo e após uma prece Saulo voltou a enxergar. (Ananias era o mesmo que despertou Abgail para o Evangelho e depois foi perseguido por Saulo. Saulo sentiu mais uma vez a angústia de sua consciência e a nova lição que recebia de Jesus ao ser curado justamente por aquele que ele estava perseguindo)
    
    Após isso, Saulo quis saber tudo sobre Jesus. Ananias contou-lhe tudo que ouviu através dos Apóstolos e também narrou a sua participação como testemunha do martírio e crucificação de Jesus.
      Assim, Saulo ávido por querer saber tudo sobre Jesus perguntou como ele poderia obter o Evangelho sagrado de Jesus. E Ananias disse que na Igreja do “Caminho”, em Jerusalém, ele poderia obter uma cópia integral das anotações de Levi (Mateus). Entretanto, forneceu-lhe alguns rascunhos particular sobre o evangelho.

Continua...
V. Lau

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Bibliografia:
“O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec; tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras,SP,IDE, 309 edição,2005.

“Contos Desta e Doutra Vida” – pelo Espírito Irmão X; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. – 2.ed. -Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2008.

"Paulo e Estevão": episódios históricos do Cristianismo primitivo: romance / pelo Espírito Emmanuel; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. - 45.ed. - 11. imp. - Brasília: FEB, 2017

Paris, 1864.

Allan Kardec

Advento do Espírito Verdade

7. Sou o grande médico das almas, e venho vos trazer o remédio que deve curá-las; os fracos, os sofredores e os doentes são meus filhos prediletos, e venho salvá-los. Vinde, pois, a mim, todos vós que sofreis e que estais sobrecarregados, e sereis aliviados e consolados; não procureis alhures a força e a consolação, porque o mundo não as pode dar. Deus fez, aos vossos corações, um apelo supremo pelo Espiritismo: escutai-o. Que a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade, sejam extirpados de vossas almas doloridas; são esses os monstros que se saciam de vosso sangue mais puro, e que vos ferem quase sempre mortalmente. Que no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis sua divina lei. Amai e orai; sede dóceis aos Espíritos do Senhor; invocai-o do fundo do coração e, então, ele vos enviará seu filho bem-amado para vos instruir e vos dizer estas boas palavras: Eis-me aqui; venho a vós porque me chamastes (O ESPÍRITO DE VERDADE, Bordéus, 1861).
“O Evangelho Segundo o Espiritismo 
Uberaba (MG), janeiro de 1964.

Espírito Irmão X

Servir Mais

     Efrain bem assef, caudilho(chefe militar) de Israel contra o poderio romano, viera a Jerusalém para levantar as forças da resistência, e, informado de que Jesus, o profeta, fora recebido festivamente na cidade, resolveu procurá-lo, na casa de Obede, o guardador de cabras, a fim de ouvi-lo.
     - Mestre – falou o guerreiro -, não te procuro como quem desconhece a Justiça de Deus, que corrige os erros do mundo, todos os dias... Tenho necessidade de instrução para a minha conduta pessoal no auxílio do povo. Como agir, quando o orgulho dos outros se agiganta e nos entrava o caminho? ... quando a vaidade ostenta o poder e multiplica as lágrimas de quem chora?
     - É preciso ser mais humilde e servir mais respondeu o Senhor, fixando nele o olhar translúcido.
     - Mas... e quando a maldade se ergue, espreitando-nos à porta? Que fazer, quando os ímpios nos caluniam à feição de verdugos?
     E Jesus:
     - É preciso mais amor e servir mais.
     - Senhor, e a palavra feroz? Que medidas tomar para coibi-la? Como proceder, quando a boca do ofensor cospe fogo de violência, qual nuvem de tempestade, arremessando raios de morte?
     - É preciso mais brandura e servir mais.
     - E diante dos golpes? Há criaturas que se esmeram na crueldade, ferindo-nos até o sangue... De que modo conduzir nosso passo, à frente dos que nos perseguem sem motivo e odeiam sem razão?
     - É preciso mais paciência e servir mais.
     - E a pilhagem, Senhor? que diretrizes buscar, perante aqueles que furtam, desapiedados e poderosos, assegurando a própria impunidade á custa do outro que ajuntam sobre o pranto dos semelhantes?
     - É preciso mais renúncia e servir mais.
     - E os assassinos? Que comportamento adotar, junto daqueles que incendeiam campos e lares, exterminando mulheres e crianças?
     - É preciso mais perdão e servir mais.
     Exasperado, por não encontrar alicerces ao revide político que aspirava a empreender em mais larga escala, indagou Efraim:
     - Mestre, que pretendes dize por “servir mais”?
     Jesus afagou uma das crianças que o procuravam e replicou, sem afetação:
     - Convencidos de que a Justiça de Deus está regendo a vida, a nossa obrigação, no mundo íntimo, é viver retamente na prática do bem, com a certeza de que a lei cuidará de todos. Não temos, desse modo, outro caminho mais alto senão servir ao bem dos semelhantes, sempre mais...
     O chefe israelita, manifestando imenso desprezo, abandonou a pequena sala, sem despedir-se.
    Decorridos dois dias, quando os esbirros do Sinédrio chegaram, em companhia de Judas, para deter o Messias, Efraim bem Assef estava à frente. E, sorrindo, ao algemar-lhe o pulso, qual se prendesse temível salteador, perguntou, sarcástico:
     - Não reages, galileu?
     Mas o Cristo pousou nele, de novo, o olhar tranquilo e disse apenas:
     - É preciso compreender e servir mais.
“Contos Desta e Doutra Vida” 

sábado, 3 de março de 2018

Quem é Jesus, Por que Ele Nasceu na Terra e Por que Ele Retornará?- Parte 2

       QUEM É JESUS?

      Continuando... nossa reflexão anterior sobre quem é Jesus, o que Ele veio fazer aqui na Terra e por que Ele retornará, vamos buscar nos próprios registros históricos dos Evangelhos outras informações importantes daquela época.
     No “Novo Testamento”  está o registro feito por aqueles que conviveram diretamente com o Cristo, e por aqueles que conheceram o Evangelho posteriormente, através dos discípulos de Jesus.
     João, que viveu diretamente com Jesus, fez um registro importante para entendermos o que se passou ali na Galileia:

João 20
30 – Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro.
31 – Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.

João 21
25 – Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos.

      Acima, como relata João, muitas outras coisas ocorreram realizadas por Jesus e que não foram registradas. Se todas as coisas tivessem sido escritas talvez teríamos uma visão mais ampla sobre Jesus e sua obra.

A ERA DA "CIÊNCIA DO ESPÍRITO" EM PROGRESSO...
Francisco Cândido Xavier

     Passados mais de dois mil anos após esses registros, quase um século depois do surgimento da Ciência do Espírito, em 1940, na cidade de Pedro Leopoldo (MG) o Espírito Humberto de Campos, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, trouxe novas revelações para que possamos entender melhor sobre a vida de Jesus. Nesse livro, “Boa Nova”, ele relata inúmeras passagens da vida de Jesus, sendo que algumas delas não estão registradas no “Novo Testamento”. Também, em 1964, no Livro “Contos Desta e Doutra Vida”, ele nos traz outras passagens ocorridas com Jesus e seus discípulos naquele tempo. Com esses relatos, é preenchido, um pouco, ao que João se referiu sobre os "muitos outros sinais feitos por Jesus" e que não foram registrados em livros naquela época.

      Na introdução  “Na Escola do Evangelho”, do livro "Boa Nova", Humberto de Campos relata:
     
Espírito Humberto de Campos
(...) Nas esferas mais próximas da Terra, os nossos labores por afeiçoar sentimentos, a exemplo do Cristo são também minuciosos e intensos. Escolas numerosas se multiplicam, para os Espíritos desencarnados. E eu, que sou agora um discípulo humilde desses educandários de Jesus, reconheci que os planos espirituais têm também o seu folclore. Os feitos heroicos e abençoados, muitas vezes anônimos no mundo, praticados por seres desconhecidos, encerram aqui profundas lições, em que encontramos forças novas. Todas as expressões evangélicas têm, entre nós, a sua história viva. Nenhuma delas é símbolo superficial. Inumeráveis observações sobre o Mestre e seus continuadores palpitam nos corações estudiosos e sinceros.
     Dos milhares de episódios desse folclore do Céu, consegui reunir trinta e trazer ao conhecimento do amigo generoso que me concede a sua atenção. Concordo em que é pouco; mas isso deve valer como tentativa útil, pois estou certo de que não me faltou o auxílio indispensável. (...)
    (...) Agora, para consolidar a estranheza dos que me leem, com o sabor de críticas, tão ao gosto do nosso tempo, justificando a substância real das narrativas deste livro, citarei o apóstolo Marcos, quando diz (4:34): “E sem parábola nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seus discípulos”;  e o apóstolo João, quando afirma (21:25): “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez e que, se cada uma de per si fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem.”
     E é só. Como se vê, não faço referências aos clássicos da literatura antiga ou contemporânea. Cito Marcos e João. É que existem Espíritos esclarecidos e Espíritos evangelizados, e eu, agora, peço a Deus que abençoe a minha esperança de pertencer ao número destes últimos.(...)

     No livro, Humberto de Campos traz 30 episódios que ocorreram naquele tempo com Jesus, e ali vamos ver a dificuldade de Jesus ser compreendido até mesmo entre seus discípulos sobre a mensagem do “ Reino dos Céus” que ele trazia para ser vivenciada pela humanidade.
     Com o advento da Ciência do Espírito iniciada por Allan Kardec, através de seu esforço em pesquisar o fenômeno mediúnico e as manifestações dos espíritos, o evangelho de Jesus foi revivido e muitas outras coisas mais foram e estão sendo reveladas. Pois agora podemos perceber que o “Espírito da Verdade” não se trata de uma única entidade, e sim de uma egrégora espiritual que realiza o projeto de esclarecimento espiritual para trazer maturidade à toda humanidade.
V. Lau
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Bibliografia:
“Evangelho Segundo o Espiritismo” Allan Kardec; tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE 2005.

“Boa Nova” – pelo Espírito Humberto de Campos; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier.  – Brasília: FEB, 2013.

“Contos desta e doutra vida” pelo Espírito Irmão X; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. -Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2008.
Paris,1864

Allan Kardec

6 – Venho ensinar e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao nível de suas provas; que chorem, porque a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras; mas que esperem, porque os anjos consoladores virão enxugar suas lágrimas.
     Obreiros, traçai o vosso sulco; recomeçai no dia seguinte a rude jornada da véspera; o  labor de vossas mãos fornece o pão terrestre ao vosso corpo, mas vossas almas não estão esquecidas; e eu,  divino jardineiro, as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos; quando  a  hora do repouso tiver soado, quando a trama dos vossos dias escapar de vossas mãos, e quando vossos olhos se fecharem à luz, sentireis surgir e germinar em vós a minha preciosa semente. Nada está perdido no Reino de nosso Pai, e vossos suores, vossas misérias, formam o tesouro que deve vos tornar ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas e onde o mais desnudo de vós será, talvez, o mais resplandecente.
     Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são meus bem-amados.  Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos ensina o objetivo sublime da provação humana. Como o vento varre a poeira, que o sopro dos Espíritos dissipe os vossos ciúmes contra os ricos do mundo que, frequentemente, são muito miseráveis, porque suas provas são mais perigosas do que as vossas. Eu estou convosco, e meu apóstolo vos ensina. Bebei na fonte viva do amor e preparai-vos, cativos da vida, para vos lançar um dia, livres e alegres, no seio d´Aquele que vos criou fracos para vos tornar perfectíveis, e que quer que vós mesmos trabalheis vossa maleável argila, a fim de serdes os artífices da vossa imortalidade. – O Espírito de Verdade (Paris, 1861)
Livro: “Evangelho Segundo o Espiritismo” 

Pedro Leopoldo (MG), 9 de novembro de 1940.

Espírito Humberto de Campos

     A última ceia
 

     Reunidos os discípulos em companhia de Jesus, no primeiro dia das festas da Páscoa, como de outras vezes, o Mestre partiu o pão com a costumeira ternura. Seu olhar, contudo, embora não traísse a serenidade de todos os momentos, apresentava misterioso fulgor, como se sua alma, naquele instante, vibrasse ainda mais com os altos planos do Invisível.
     Os companheiros comentavam com simplicidade e alegria os sentimentos do povo, enquanto o Mestre meditava silencioso.
     Em dado instante, tendo-se feito longa pausa entre os amigos palradores, o Messias acentuou com firmeza impressionante:
     - Amados, é chegada a hora em que se cumprirá a profecia da Escritura. Humilhado e ferido, terei de ensinar em Jerusalém a necessidade do sacrifício próprio, para que não triunfe apenas uma espécie de vitória, tão passageira quanto as edificações do egoísmo ou do orgulho humanos. Os homens têm aplaudido, em todos os tempos, as tribunas douradas, as marchas retumbantes dos exércitos que se glorificaram com despojos sangrentos, os grandes ambiciosos que dominaram à força o espírito inquieto das multidões; entretanto, eu vim de meu Pai para ensinar como triunfam os que tombam no mundo, cumprindo um sagrado dever de amor, como mensageiros de um mundo melhor, onde reinam o bem e a verdade. Minha vitória é a dos que sabem ser derrotados entre os homens, para triunfarem com Deus, na divina construção de suas obras, imolando-se, com alegria, para a glória de uma vida maior.
     Ante a resolução expressa naquelas palavras firmes, os companheiros se entreolharam, ansiosos.
     O Messias continuou:
     - Não vos perturbeis com as minhas afirmativas, porque, em verdade, um de vós outros me há de trair!... As mãos, que eu acariciei, voltam-se agora contra mim. Todavia, minha alma está pronta para execução dos desígnios de meu Pai.
     A pequena assembleia fez-se lívida. Com exceção de Judas, que entabulara negociações particulares com os doutores do Templo, faltando apenas o ato do beijo, a fim de consumar-se a sua defecção, ninguém poderia contar com as palavras amargas do Messias. Penosa sensação de mal-estar se estabelecera entre todos. O filho de Iscariotes fazia o possível por dissimular as suas angustiosas impressões, quando os companheiros se dirigiam ao Cristo com perguntas angustiadas:
     - Quem será o traidor? – disse Filipe, com estranho brilho nos olhos.
     - Serei eu? – indagou André, ingenuamente.
     - Mas, afinal – objetou Tiago, filho de Alfeu, em voz alta -, onde está Deus que não conjura semelhante perigo?
     Jesus, que se mantivera em silêncio ante as primeiras interrogações, ergueu o olhar para o filho de Cleofas e advertiu:
     -Tiago, faze calar a voz de tua pouca confiança na sabedoria que nos rege os destinos. Uma das maiores virtudes do discípulo do Evangelho é a de estar sempre pronto ao chamado da Providência divina. Não importa onde e como seja o testemunho de nossa fé. O essencial é revelarmos a nossa união com Deus, em todas as circunstâncias. É indispensável não esquecer a nossa condição de servos de Deus, para bem lhe atendermos ao chamado, nas horas de tranquilidade ou de sofrimento.
     A esse tempo, havendo-se calado novamente o Messias, João interveio, perguntando:
     - Senhor, compreendo a vossa exortação e rogo ao pai a necessária fortaleza de ânimo; mas por que motivo será justamente um dos vossos discípulos o traidor de vossa causa? Já nos ensinastes que, para se eliminarem do mundo os escândalos, outros escândalos se tornam necessários; porém, ainda não pude atinar com a razão de um possível traidor, em nosso próprio colégio de edificação e de amizade.
     Jesus pousou no interlocutor os olhos serenos e acentuou:
     - Em verdade, cumpre-me afirmar que não me será possível dizer-vos tudo agora; entretanto, mais tarde enviarei o Consolador, que vos esclarecerá em meu nome, como agora vos falo em nome de meu Pai.
      E, detendo-se um pouco a refletir, continuou para o discípulo em particular:
     - Ouve, João: os desígnios de Deus, se são insondáveis, também são invariavelmente justos e sábios. O escândalo desabrochará em nosso próprio círculo bem-amado, mas servirá de lição a todos aqueles que vierem depois de nossos passos, no divino serviço do Evangelho. Eles compreenderão que para atingirem a porta estreita da renúncia redentora hão de encontrar, muitas vezes, o abandono, a ingratidão e o desentendimento dos seres mais queridos. Isso revelará a necessidade de cada qual firmar-se no seu caminho para Deus, por mais espinhoso e sombrio que ele seja.
     O Apóstolo impressionara-se vivamente com as derradeiras palavras do Mestre e passou a meditar sobre seus ensinos.

     As sensações de estranheza perduravam em toda a assembleia. Jesus, então, levantou-se e, oferecendo a cada companheiro um pedaço de pão, exclamou:
     - Tomai e comei! Este é o meu corpo.
     Em seguida, servindo a todos de uma pequena bilha de vinho, acrescentou:
    - Bebei! Porque este é o meu sangue, dentro do Novo Testamento, a confirmar as verdades de Deus.
    Os discípulos lhe acolheram a suave recomendação, naturalmente surpreendidos, e Simão Pedro, sem dissimular a sua incompreensão do símbolo, interrogou:
    - Mestre, que vem a ser isso?
    - Amados – disse Jesus, com emoção -, está muito próximo o nosso último instante de trabalho em conjunto e quero reiterar-vos as minhas recomendações de amor, feitas desde o primeiro dia do apostolado. Este pão significa o do banquete do Evangelho; este vinho é o sinal do espírito renovador dos meus ensinamentos. Constituirão o símbolo de nossa comunhão perene, no sagrado idealismo do amor, com que operaremos no mundo até o último dia. Todos os que partilharem conosco, através do tempo, desse pão eterno e desse vinho sagrado da alma, terão o espírito fecundado pela luz gloriosa do Reino de Deus, que representa o objetivo santo dos nossos destinos.
     Ponderando a intensidade do esforço a ser empregado e aludindo às multidões espirituais que se conservam sob a sua amorosa direção, fora dos círculos da carne, nas esferas mais próximas da Terra, o Cristo acrescentou:
    - Imenso é o trabalho da redenção, mesmo porque tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; mas o Reino nos espera com sua eternidade luminosa!...
     Altamente tocados pelas exortações solenes, porém, maravilhados ainda mais com as promessas daquele reinado venturoso e sem-fim, que ainda não podiam compreender claramente, a maioria dos discípulos começou a discutir as aspirações e conquistas do futuro.
     Enquanto Jesus se entretinha com João, em observações afetuosas, os filhos de Alfeu examinavam com Tiago as possíveis realizações dos tempos vindouros, antecipando opiniões sobre qual dos companheiros poderia ser o maior de todos, quando chegasse o Reino com as suas inauditas grandiosidades. Filipe afirmava a Simão Pedro que, depois do triunfo, todos deveriam entrar em Nazaré para revelar aos doutores e aos ricos da cidade a sua superioridade espiritual. Levi dirigia-se a Tomé e lhe fazia sentir que, verificada a vitória, se lhes constituía uma obrigação a marcha para o Templo ilustre, em que exigiriam seus poderes supremos. Tadeu esclarecia que o seu intento era dominar os mais fortes e impenitentes do mundo, para que aceitassem, de qualquer modo, a lição de Jesus.
     O Mestre interrompera a sua palestra íntima com João, e os observava. As discussões iam acirradas. As palavras “maior de todos” soavam insistentemente aos seus ouvidos. Parecia que os componentes do sagrado colégio estavam na véspera da divisão de uma conquista material e, como os triunfadores do mundo, cada qual desejava a maior parte da presa. Com exceção de Judas, que se fechava num silêncio sombrio, quase todos discutiam com veemência. Sentindo-lhes a incompreensão, o Mestre pareceu contemplá-los com entristecida piedade.


    Nesse instante, os apóstolos observaram que Ele se erguia. Com espanto de todos, despiu a túnica singela e cingiu-se com uma toalha em torno dos rins, à moda dos escravos mais íntimos, a serviço dos seus senhores. E, como se fossem dispensáveis as palavras naquela hora decisiva de exemplificação, tomou de um vaso de água perfumada e, ajoelhando-se, começou a lavar os pés dos discípulos. Ante o protesto geral em face daquele ato de suprema humildade, Jesus repetiu o seu imorredouro ensinamento:
     - Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou. Se eu, Senhor e Mestre, vos lavo os pés, deveis igualmente lavar os pés uns dos outros no caminho da vida, porque no Reino do bem e da Verdade, o maior será sempre aquele que se fez sinceramente o menor de todos.
Livro: “Boa Nova” 

Uberaba (MG), 20 de janeiro de 1964

Espírito Irmão X

     Aprendizes e adversários

    
Casa de Pedro em Cafarnaum
Jonathan, Jessé e Eliakim, funcionários do Templo de Jerusalém, passando por Cafarnaum, procuraram Jesus no singelo domicílio de Simão Pedro.
     Recebidos pelo Senhor, entregaram-se, de imediato, à conversação.
     - Mestre - disse o primeiro -, soubemos que a tua palavra traz ao mundo as Boas Novas do Reino de Deus e, entusiasmados com as tuas concepções, hipotecamos ao teu ministério o nosso aplauso irrestrito. Aspiramos, Senhor, à posição de discípulos teus... Não obstante as obrigações que nos prendem ao Sagrado Tabernáculo de Israel, anelamos servir-te, aceitando-te as ideias e lições, com as quais seremos colunas de tua causa na cidade eleita do povo escolhido... Contudo, antes de solenizar nossos votos, desejamos ouvir-te quanto à conduta que nos compete à frente dos inimigos.

     - Messias, somos hostilizados por terríveis desafetos, no Santuário – exclamou o segundo -,e, extasiados com os teus ensinamentos, estimaríamos acolher-te a orientação.
    
     - Filho de Deus – pediu o terceiro -, ensina-nos como agir...

     Jesus meditou alguns instantes, e respondeu:

     - Primeiramente, é justo considerar nossos adversários como instrutores. O inimigo vê junto de nós a sombra que o amigo não deseja ver e pode ajudar-nos a fazer mais luz no caminho que nos é próprio. Cabe-nos, desse modo, tolerar-lhe as admoestações, com nobreza e serenidade, tal qual o ferro, que após sofrer, paciente, o calor da forja, ainda suporta os golpes do malho com dignidade humilde, a fim de se adaptar à utilidade e à beleza.

     Os visitantes entreolharam-se, perplexos, e Jonathan retomou a palavra, perguntando:

     - Senhor, e se somos injuriados?

     - Adotemos o perdão e o silêncio – disse Jesus. – Muita gente que insulta é vítima de perturbações e enfermidade.
     - E se formos perseguidos? -  indagou Jessé.

    - Utilizemos a oração em favor daqueles que nos afligem, para que não venhamos a cair no escuro nível da ignorância a que se acolhem.

    - Mestre, e se nos baterem, esmurrarem? – interrogou Eliakim. – Que fazer se a violência nos avilta e confunde?

    - Ainda assim -  esclareceu o brando interpelado -, a paz íntima deve ser nosso asilo e o amor fraterno a nossa atitude, porquanto, quem procura seviciar o próximo e dilacerá-lo está louco e merece compaixão.

     - Senhor -  insistiu Jonathan -, que resposta oferecer, então, à maledicência, à calúnia e à perversidade?

     O Cristo sorriu e precisou:

     - O maledicente guarda consigo o infortúnio de descer à condição do verme que se alimenta com o lixo do mundo, o caluniador traz no coração largas doses de fel e veneno que lhe flagelam a vida, e o perverso tem a infelicidade de cair nas armadilhas que tece para os outros. O perdão é a única resposta que merecem, porque são bastante desditosos por si mesmos.

     - E que reação assumir perante os que perseguem? – inquiriu Jessé, preocupado.

    - Quem persegue os semelhantes tem o espírito em densas trevas e mais se assemelha ao cego desesperado que investe contra os fantasmas da própria imaginação, arrojando-se ao fosso do sofrimento. Por esse motivo, o socorro espiritual é o melhor remédio para os que nos atormentam...

     - E que punição reservar aos que nos ferem o corpo, assaltando-nos o brio? – perguntou Eliakim, espantado. – Refiro-me àqueles que nos vergastam a face e fazem sangrar o peito...


     - Quem golpeia pela espada, pela espada será golpeado também, até que reine o Amor Puro na Terraexplicou o Mestre, sem pestanejar. – Quem se rende às sugestões do crime é um doente perigoso que devemos corrigir com reclusão e com o tratamento indispensável. O sangue não apaga o sangue e o mal não retira o mal...


     E, espraiando o olhar doce e lúcido pelos circunstantes, continuou:

     - É imperioso saibamos amar e educar os semelhantes com a força de nossas convicções e conhecimentos, a fim de que o Reino de Deus se estenda no mundo... As Boas Novas de Salvação esperam que o santo ampare o pecador, que o são ajude ao enfermo, que a vítima auxilie o verdugo...Para isso, é imprescindível que o perdão incondicional, com o olvido de todas as ofensas, assegure a paz e a renovação de tudo...

     Nesse ínterim, uma criança doente chorou em alta voz num aposento contíguo.

     O Mestre pediu alguns instantes de espera e saiu para socorrê-la, mas, ao regressar, debalde buscou a presença dos aprendizes fervorosos e entusiastas.

      Na sala modesta de Pedro não havia ninguém.

Livro: “Contos desta e doutra vida”