Princesa Isabel Fonte: Wikipédia |
A escravidão, desde a antiguidade,
sempre esteve presente na história da humanidade. Em todos os povos, os derrotados
de guerras e os seres de culturas diferentes foram capturados e escravizados.
No Brasil, devido à necessidade de mão de obra nas lavouras, o mercado
escravagista expandiu-se devido à facilidade de trazer povos capturados do continente
africano. Por causa da superioridade econômica e militar dos povos europeus, a
subjugação dos povos africanos ocorreu e manteve-se ativa, devido ao comércio
lucrativo que enriquecia os escravagistas.
A libertação dos escravos no Brasil
ocorreu de forma gradativa; surgiu a “Lei Eusébio de Queirós” de 1850, que
proibia o tráfico interatlântico de escravos; depois veio a “Lei do Ventre
Livre” de 1871, que libertava todas as crianças nascidas de pais escravos; depois
a “Lei Saraiva-Cotegipe” ou “Lei dos Sexagenários” de 1885, que dava liberdade
aos escravos com mais de 65 anos de idade. Em 13 de Maio de 1888 foi assinada,
por Dona Isabel, princesa imperial do Brasil, e pelo ministro da Agricultura, o
conselheiro Rodrigo Augusto da Silva, a “Lei Áurea” que extinguia, de forma
oficial, a escravidão no Brasil.
O processo de liberdade dos escravos no
Brasil ocorreu devido à contribuição de inúmeros abolicionistas, motivados por
ideais humanistas e religiosos; também, por influência cultural e econômica europeia
que provocou a mudança econômica nos trabalhos de lavoura no país.
Na dimensão astral houve grande trabalho,
dos Espíritos Guardiões e de Seres comprometidos com o bem, para impulsionar a fase
de liberdade, devido à nova etapa de evolução no resgate cármico planetário.
No
texto abaixo, a entidade espiritual que se utiliza da forma astral como Vovó
Catarina nos traz vários informativos para a nossa reflexão.
Podemos compreender que todo período de sofrimento,
através da escravidão, é devido a um resgate cármico. Mas através deste raciocínio
surge uma dúvida. Então, é uma necessidade haver este tipo de sofrimento? A
humanidade sempre sofrerá com períodos de resgates cármicos? Procurando
compreender a “Lei de Causa e Efeito” percebemos que esses períodos de resgates
cármicos não é uma necessidade e sim uma consequência. Eles se tornarão mais
brandos à medida que a humanidade despertar os valores morais crísticos e
deixar de gerar sofrimento. Vovó Catarina nos conta que o sofrimento particular dela e de outros diante das torturas que
os escravos receberam com a marcação a ferro é consequência de eles, como
inquisidores em encarnação anterior, terem produzidos sofrimentos semelhantes.
Como o planeta vai saindo, de forma gradativa, da fase de “Provas e Expiações”,
ainda vive-se o processo de resgate através do sofrimento gerado em vidas
passadas. Enquanto a humanidade não despertar para a compreensão da atuação da “Lei
de Causa e Efeito” haverá resgates cármicos individuais e coletivos.
Outra abordagem interessante que ela faz é
sobre os médiuns “espiritualizados” que demonstram preconceitos em receberem pretos
velhos. Na verdade o preconceito estende-se também às entidades “vestidas” como
caboclos, boiadeiros, ciganos, etc. Esses médiuns permanecem valorizando mais a
forma exterior do que a irmandade que há na diversidade comprometida com a prática
da caridade.
Podemos também compreender como surgiu o
mau uso da “Magia”. Os escravos, após a “Lei Áurea”, ficaram escravizados pela
necessidade de sobrevivência e começaram a comercializar os conhecimentos magísticos
das práticas de suas religiões. Pela “Lei
de Identidade Vibratória”, atraíram o assessoramento de entidades das regiões
trevosas, gerando com isso um novo débito perante as Leis Divinas, que terá que
ser resgatado, dentro da “Lei de Causa e Efeito”, através de sofrimentos
semelhantes, provocados.
Esta história contada por Vovó Benta contribui para
o nosso despertar da compreensão do nosso processo evolutivo e a Lei de Causa e Efeito.
V. Lau
Erechim (RS), janeiro de 2006.
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Senzala no Céu?
- Isso mesmo, meu camboninho. Isso
mesmo. Negra velha lembra como se fosse hoje:
“Um sem número de escravos, judiados
pela dureza a que eram submetidos nas fazendas do Brasil, desencarnavam ainda em tenra idade.
Essa negra velha e alguns outros, mais obedientes às ordens do patrãozinho,
conseguiram chegar até a velhice habitando o corpo de carne. Quando adoeci,
só pedia a Zambi, que compreendia ser um Pai muito bondoso, que não olhasse as mágoas que ainda guardava
no coração, pelos filhos arrancados de nossas mãos, e que me
recolhesse em qualquer uma de Suas moradas. Rogava em minhas orações que se
fizesse a Sua vontade, mas que a minha era de poder me encontrar, nas
paragens do céu, com o mestiço Tião, a quem meu coração havia amado tanto e
padecido mais ainda vendo-o morrer injustiçado no tronco, açoitado e
sangrando.
Numa noite estrelada, deitei o corpo
cansado da lide do dia sobre as palhas que faziam minha cama e, durante minha
reza, senti uma agulhada forte no coração, ao mesmo tempo em que a vista
escurecera. Acordei num lugar muito
diferente da senzala onde havia adormecido. Era tudo muito bonito e
limpo, e eu estava deitada numa cama macia e cheirosa, como aquelas da Casa
Grande. Olhando ao redor, percebi que havia muitos outros negros que, como
eu, acordavam atordoados. Fechei os olhos e adormeci para acordar um tempo
depois com o meu Tião aos pés de meu leito. Pensei estar sonhando, não fosse
o sorriso e o abraço que recebi, que me fizeram ver onde estava. Não cabia em
mim de felicidade e, tão logo me recuperei, pude visitar com ele aquelas
paragens a que chamavam Aruanda. Reencontrei
dezenas de negros que vi morrer na Terra sob ferro quente, sob o chicote do
feitor ou por causa das pestes que os faziam agonizar.”
- Olha, camboninho, se negra velha não
estivesse morta poderia dizer que morreria de tanta emoção, eh, eh. Lá éramos tratados como gente e
tínhamos direitos como os brancos da Terra. Podíamos glorificar
nossos Orixás, e, em pouco tempo, alguns de nós, em caravana, desciam à Terra para socorrer os irmãos que
desencarnavam. Naquele tempo, haveria
grande movimentação nas terras do Cruzeiro, pois seria assinado um tratado de
libertação para os escravos que ainda habitavam a carne. Muitos de
nós, em espírito, éramos convocados
por nossos superiores a fim de auxiliar os guias de luz a defender aquela que
seria a redentora. E, do outro lado da vida, vimos nosso povo ser liberto pela lei e tornar-se escravo pela
necessidade. A miséria imposta pela falta
de tudo fez meu povo vender o que tinha de mais sagrado: a fé.
Em troca de moedas que garantiam o sustento, vendiam a magia trazida de outras terras, a qual sempre
lhes servira para a elevação espiritual. Muitos se perderam e, além da
revolta e da miséria, passaram a se aliar às trevas. A
provação que visava ao resgate do último ceitil, para muitos de nossos
irmãos, estava perdendo o sentido. O coração desta negra velha batia
descompassado e, não fosse a benevolência
de nossos superiores a nos instruir e pedir paciência, teria se
desequilibrado diante de tanta dor pelos filhos que se perdiam na carne.
Tião, Espírito de inigualável brandura, acalmava-me, e assim pudemos, juntos,
assistir à maior festa de que já se
teve notícia lá pelas bandas de Aruanda. Ela aconteceu trinta e três anos depois da libertação.
Atentos e felizes, esperávamos o
momento em que o portão daquela senzala se abrisse para deixar entrar alguém
que acabara de deixar o corpo carnal após cumprir sua grande tarefa no plano
terreno. Os tambores anunciaram sua chegada e, envolta numa claridade ímpar que saía de seu coração, ela
desembarcava diante de nós. Era uma branca em território negro. Era
uma princesa visitando a senzala. Brados de alegria eram retribuídos pelo
doce sorriso e por sua aura de luz, que a todos nós envolvia como num abraço
fraternal. Estava de passagem e nos brindava com sua visita.
- Então minha mãe conheceu a princesa?
- Eh, eh,
meu camboninho. Deste lado da vida
não existem majestades, todos se igualam, o preto e o branco. Só o que separa uns espíritos dos
outros é a evolução alcançada, mas mesmo esta não é empecilho para
que estejamos nos ajudando permanentemente. Os bons de hoje já foram aqueles que feriram e que, depois de se
ferirem, aprenderam que a dor é o melhor remédio. Se a escravidão da
carne nos foi dada numa encarnação é porque outrora, ignorando as Leis Maiores, assenhoramo-nos de direitos que não nos
cabiam. Com malícia, egoísmo e orgulho, escravizamos nosso espírito,
atrelando-nos a um carma pesado. Tendo sido inquisidores no
passado, com o mesmo fogo com que calamos nossos irmãos, fomos marcados como
animais. A princesa, da mesma forma, renasceu na Terra para
cumprir o que havia se omitido no passado, pois, se não fazer o mal bastasse,
a evolução não se daria. É preciso e necessário realizar o bem, e este nos
aguarda em cada encruzilhada da estrada. Oportunidades
nos são ofertadas diariamente, cabe-nos ter olhos abertos para ver.
- E, hoje, vó Catarina, onde está a
princesa?
- Camboninho é curioso! Negra Velha já
esbarrou com o espírito da redentora pelos terreiros da vida. Isso mesmo!
Entre tambores e defumações, já a vimos, como qualquer um de nós que
trabalhamos para Aruanda, vestir seu traje de preta velha e vir socorrer os
filhos da Terra. E ainda tem mais, camboninho. Já vi médium se negar a recebê-la, por
preconceito com os pretos velhos. Eh, eh, meu filho! Vê agora como
são as coisas? Será que algum médium se omitiria a recebê-la se soubesse quem
já fora? Ainda há de chegar o dia, meu cambono, em que os filhos de todos os
terreiros terão a fé inquestionável e permitirão branquear a alma para que a
Luz que tanto anseia em dominar o coração dos homens possa fazer morada por
aqui também. Por que as lágrimas, meu menino?
- Porque sinto vergonha de só ter a pele
branca, minha mãe. Queria ter o coração tão alvo que pudesse ser capaz de
mostrar às pessoas a grandeza de nossa divina umbanda e de suas falanges de
luzeiros.
- Salve, meu camboninho! Que essas
lágrimas de reconhecimento possam ser levadas até a cachoeira de Oxum e que
esse Sagrado Orixá as recolha para fazer delas as pérolas que te serão
devolvidas no caminho de volta. A bênção de Zambi, filho de meu coração.
Vó
Catarina despedia-se, enquanto repassava toda sua emoção com as lágrimas que
rolavam do rosto de seu aparelho.
O camboninho sentiu um caloroso abraço.
Sabia que já o havia ganhado, pois a energia era inconfundível. Seu coração batia muito forte toda vez
que trabalhava com aquela preta velha, dizendo que um elo de amor os unia em
espírito. O que não podia lembrar é que ele era o mesmo mestiço Tião de outrora.
Se as correntes da ignorância
aprisionam, a busca incessante da sabedoria é a chave que liberta. Os dois
lados da vida se fundem quando o elo é o amor.
“Causos
de Umbanda” – A psicologia dos pretos velhos / Vovó Benta (Espírito) – 1ª ed.
– Limeira, SP: Editora do Conhecimento, 2006.
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