segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Primeiras Pregações

Em 1940, na cidade de Pedro Leopoldo, Minas Gerais, o Espírito Humberto de Campos, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, informou que nas dimensões vibratórias espirituais mais próximas da densidade terrena existem inúmeras escolas de aprendizado, e nelas aprende-se muito com os feitos abençoados, mas que são desconhecidos do registro histórico da humanidade na dimensão física. Na época de Jesus muito outros episódios ocorreram e não foram registrados na Bíblia. Para justificar a sua narrativa, ele cita dois trechos do evangelho que são: Marcos 4 (33) - “Anunciava-lhes a Palavra por meio de muitas parábolas como essas, conforme podiam entender; (34) e nada lhes falava a não ser em parábolas. A seus discípulos, porém, explicava tudo em particular.” ; João 21 (25) - “Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez. Se fossem escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam.” (Bíblia de Jerusalém)
     Com a narrativa  de Humberto de Campos podemos compreender, de uma forma mais ampla,  o desejo de Jesus e a dificuldade de compreensão dos seus discípulos e religiosos em relação a sua obra.
     Era de costume os Judeus fazerem peregrinações para Jerusalém para visitarem o Templo de Salomão, e os galileus eram reconhecidos pelo seu modo de se vestirem e seus cabelos compridos.      No diálogo com o Sacerdote Hanã podemos perceber o “orgulho intelectual” que apresentam todos aqueles que se submetem a um condicionamento religioso, sem desenvolverem uma compreensão e aceitação de outras maneiras de pensar.
     No momento do convite que Jesus fez a Simão e a André percebemos a simplicidade dos dois pescadores, sem muito entendimento quanto a proposta inicial de Jesus em relação à construção do Reino de Deus na Terra. Pelo diálogo demonstraram compreender que este  Reino seria na parte material,  com governantes e súditos, iguais aos que existiam na Terra. Com o passar do tempo é que foram entendendo que Jesus desejava construir o Reino dos Céus no coração dos seres humanos. A Boa Nova (Boa Notícia) que Jesus Trazia era a de uma doutrina consoladora endereçada a todos que com o coração puro e sincero aceitassem novos esclarecimentos, quanto à compreensão da vontade de Deus e o comportamento ideal para se ajustar às Suas Leis. O Reino de Deus no coração significa mudança no pensamento e no sentimento vivenciando-os através dos atos de verdadeira fraternidade. Jesus iniciou a sua doutrina consoladora e ela atravessou os milênios servindo como guia do nosso comportamento, para que pudéssemos compreender melhor o nosso processo evolutivo.
      Portanto, para a nossa evolução torna-se necessário vigiar nosso “orgulho intelectual” adquirido através das doutrinas religiosas; percebendo-se que o Reino de Deus é revelado de forma gradativa conforme nossa maturidade espiritual.
V.Lau


Mateus 4
Retorno à Galileia12 Ao ouvir que João havia sido preso, ele voltou para a Galileia 13 e, deixando Nazara, foi morar em Cafarnaum, à beira-mar, nos confins de Zabulon e Neftali, 14 para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: (Mc 1, 14-15 – Lc 4,14 – Jo 4, 1-3. 43-45 e 13, 53s)
15 Terra de Zabulon, terra de Neftali,
Caminho do mar, região além do Jordão,
Galileia das nações! (Is 8, 23 – 9,1  1Mc 5,15  Jo 7,52)
16 O povo que jazia nas trevas
Viu uma grande luz;
Aos que jaziam na região sombria da morte,
Surgiu uma luz.  (Lc 1,79s   Jo 8,12 + Rm 2,19)
17 A partir desse momento, começou Jesus a pregar e a dizer: “Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus” (3,2 + Dn 7,14)

Chamado dos quatro primeiros discípulos18 Estando ele a caminhar junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 19 Disse-lhes: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”. 20 Eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram. (Mc 1,16-20  Lc 5, 1-11   Jo 1,35-42)

BÍBLIA DE JERUSALÉM – Nova edição, revista e ampliada. Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. PAULUS – 2002 -  São Paulo.
 Mateus 4
Jesus volta para a Galileia (Mc 1.14-15; Lc4.14-15)
12 Ouvindo, porém, Jesus que João fora preso, retirou-se para a Galileia;
13 e, deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum, situada à beira-mar,  nos confins de Zebulom e Naftali;
14 para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías:
15 Terra de Zebulom, terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios!
16 O povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte resplandeceu-lhes a luz.
17 Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrempendei-vos, porque está próximo o reino dos céus.
A vocação de discípulos (Mc 1.16-20; Lc 5.1-11)
18 Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu dois irmão, Simão, chamado Pedro, e André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores.
19 E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.
20 Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram.

BÍBLIA SAGRADA – Antigo e Novo Testamento – Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri –SP: Sociedade Biblica do Brasil, 2008.


Pedro  Leopoldo (MG), novembro de 1940

Espírito Humberto de Campos

PRIMEIRAS PREGAÇÕES
     Nos primeiros dias do ano 30, antes de suas gloriosas manifestações, avistou-se Jesus com o Batista, no deserto triste da Judeia, não muito longe das areias ardentes da Arábia. Ambos estiveram juntos, por alguns dias, em plena natureza, no campo ríspido do jejum e da penitência do grande precursor, até que o Mestre divino, despedindo-se do companheiro, demandou o oásis de Jericó, uma bênção de verdura e água, entre as inclemências da estrada agreste. De Jericó dirigiu-se então a Jerusalém, onde repousou, ao cair da noite.
    Sentado como um peregrino, nas adjacências do templo, Jesus foi notado por um grupo de sacerdotes e pensadores ociosos, que se sentiram atraídos pelos seus traços de formosa originalidade e pelo seu olhar lúcido e profundo. Alguns deles se afastaram, sem maior interesse, mas Hanã, que seria, mais tarde, o juiz inclemente de sua causa, aproximou-se do desconhecido e dirigiu-se lhe com o orgulho:
     - Galileu, que fazes na cidade?
     - Passo por Jerusalém, buscando a fundação do Reino de Deus – exclamou o Cristo, com modesta nobreza.
     - Reino de Deus? – tornou o sacerdote com acentuada ironia. – E que pensas tu venha a ser isso?
     - Esse Reino é a obra divina no coração dos homens! – esclareceu Jesus, com grande serenidade.
     - Obra divina em tuas mãos? – revidou Hanã, com uma gargalhada de desprezo.
     E, continuando as suas observações irônicas, perguntou: Quais são os teus seguidores e companheiros? ... Acaso terás conquistado o apoio de algum príncipe desconhecido e ilustre, para auxiliar-te na execução de teus planos?
     Meus companheiros hão de chegar de todos os lugares – respondeu o Mestre com humildade.
    - Sim – observou Hanã -, os ignorantes e os tolos estão em tua edificação. Entretanto, propões-te realizar uma obra divina e já viste alguma estátua perfeita modelada em fragmentos de lama?
    - Sacerdote – replicou-lhe Jesus, com energia serena -, nenhum mármore existe mais puro e mais formoso do que o do sentimento, e nenhum cinzel é superior ao da boa vontade sincera.
     Impressionado com a resposta firme e inteligente, o famoso juiz ainda interrogou:
    - Conheces Roma ou Atenas?
    - Conheço o Amor e a Verdade – disse Jesus convictamente.
    - Tens ciência dos códigos da Corte Provincial e das leis do Templo? – inquiriu Hanã, inquieto.
    - Sei qual é a vontade de meu Pai que está nos céus – respondeu o Mestre, brandamente.
    O sacerdote o contemplou irritado e, dirigindo-lhe um sorriso de profundo desprezo, demandou a Torre Antônia, em atitude de orgulhosa superioridade.
     No dia seguinte, pela manhã, o mesmo formoso peregrino foi ainda visto a contemplar as maravilhas do santuário, antes alguns minutos de internar-se pelas estradas banhadas de sol, a caminho de sua Galileia distante.


     Daí a algum tempo, depois de haver passado por Nazaré, descansando igualmente em Canã, Jesus se encontrava nas circunvizinhanças da cidadezinha de Cafarnaum, como se procurasse, com viva atenção, algum amigo que estivesse à sua espera.
    Em breves instantes, ganhou as margens do Tiberíades e se dirigiu, resolutamente, a um grupo alegre de pescadores, como se, de antemão, os conhecesse a todos.
     A manhã era bela, no seu manto diáfano de radiosas neblinas. As águas transparentes vinham beijar os eloendros da praia, com se brincassem ao sopro das virações perfumadas da Natureza. Os pescadores entoavam uma cantiga rude e, dispondo inteligentemente as barcaças móveis, deitavam as redes, em meio a profunda alegria.
     Jesus aproximou-se do grupo e, assim que dois deles desembarcaram em terra, falou-lhes com amizade:
     - Simão e André, filhos de Jonas, venho da parte de Deus e vos convido a trabalhar pela instituição de seu Reino na Terra!
     André lembrava-se de já o ter visto, nas cercanias de Betsaida,  e do que lhe haviam dito a seu respeito, enquanto Simão, embora agradavelmente surpreendido, o contemplava enleado. No entanto, quase a um só tempo, dando expansão aos seus temperamentos acolhedores e sinceros, exclamaram respeitosamente:
    - Sede bem-vindo!...
    Jesus então lhes falou docemente do Evangelho, com o olhar incendido de júbilos divinos.
    Estando muitos outros companheiros do lago a observar de longe os três, André, manifestando a sua tocante ingenuidade, exclamou comovido:
     - Um rei? Mas em Cafarnaum existem tão poucas casas!...
    Ao que Pedro obtemperou, como se a boa vontade devesse suprir todas as deficiências:
    - O lago é muito grande e há várias aldeias circundando estas águas. O Reino poderá abrange-las todas!
    Isso dizendo, fixou em Jesus o olhar perquiridor, como se fora uma grande criança meiga e sincera, desejosa de demonstrar compreensão e bondade. O Senhor esboçou um sorriso sereno e, como se adiasse com prazer as suas explicações para mais tarde, inquiriu generosamente:
    - Quereis ser meus discípulos?
    André e Simão se interrogaram a si mesmos, permutando sentimentos de admiração embevecida. Refletia Pedro: que homem seria aquele? Onde já lhe escutara o timbre carinhoso da voz íntima e familiar? Ambos os pescadores se esforçavam por dilatar o domínio de suas lembranças, de modo a encontra-lo nas recordações mais queridas. Não sabiam, porém, como explicar aquela fonte de confiança e de amor que lhes brotava no âmago do espírito e, sem hesitarem, sem uma sombra de dúvida, responderam simultaneamente:
     - Senhor, seguiremos os teus passos.
     Jesus os abraçou com imensa ternura e, como os demais companheiros se mostrassem admirados e trocassem entre si ditérios ridicularizadores, o Mestre, acompanhado de ambos e de grande grupo de curiosos, se encaminhou para o centro de Cafarnaum, na qual se erguia a Intendência de Ântipas. Entrou calmamente na coletoria e, avistando um funcionário culto, conhecido publicano da cidade, perguntou-lhe:
    - Que fazes tu, Levi?
    O interpelado fixou-o com surpresa; mas, seduzido pelo suave magnetismo de seu olhar, respondeu sem demora:
    - Recolho os impostos do povo, devidos a Herodes.
    - Queres vir comigo para recolher os bens do Céu? – perguntou-lhe Jesus, com firmeza e doçura.
    Levi, que seria mais tarde o apóstolo Mateus, sem que pudesse definir as santas emoções que lhe dominaram a alma, atendeu, comovido:
     - Senhor, estou pronto!...
     -Então, vamos- disse Jesus, abraçando-o.
     Em seguida, o numeroso grupo se dirigiu para a casa de Simão Pedro, que oferecera ao Messias acolhida sincera em sua residência humilde, onde o Cristo fez a primeira exposição de sua consoladora doutrina, esclarecendo que a adesão desejada era a do coração sincero e puro, para sempre, às claridades do seu Reino. Iniciou-se naquele instante a eterna união dos inseparáveis companheiros.


     Na tarde desse mesmo dia, o Mestre fez a primeira pregação da Boa Nova na praça ampla, cercada de verdura e situada naturalmente junto às águas.
     No céu, vibravam harmonias vespertinas, como se a tarde possuísse também uma alma sensível. As árvores vizinhas acenavam os ramos verdes ao vento do crepúsculo, com mãos da Natureza que convidassem os homens à celebração daquele primeiro ágape. As aves ariscas pousavam de leve nas alcaparreiras mais próximas, como se também desejassem senti-lo, e na praia extensa se acotovelava a grande multidão de pescadores rústicos, de mulheres aflitas por continuadas flagelações, de crianças sujas e abandonadas, misturados publicanos pecadores com homens analfabetos e simples, que haviam acorrido, ansiosos por ouvi-lo.
    Jesus contemplou a multidão e enviou-lhe um sorriso de satisfação. Contrariamente às ironias de Hanã, Ele aproveitaria o sentimento como mármore precioso e a boa vontade como cinzel divino. Os ignorantes do mundo, os fracos, os sofredores, os desalentados, os doentes e os pecadores seriam em suas mãos o material de base para a sua construção eterna e sublime. Converteria toda a miséria e toda dor num cântico de alegria e, tomado pelas inspirações sagradas de Deus, começou a falar da maravilhosa beleza do seu Reino. Magnetizado pelo seu amor, o povo o escutava num grande transporte de ventura. No céu havia uma vibração de claridade desconhecida.
     Ao longe, no firmamento de Cafarnaum, o horizonte se tornara um deslumbramento de luz e, bem no alto, na cúpula dourada e silenciosa, as nuvens delicadas e alvas tomavam a forma suave das flores e dos arcanjos do Paraíso.
Boa Nova” – pelo Espírito Humberto de Campos – psicografado por Francisco Cândido Xavier –FEB 2013.

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